As carteiras digitais são o meio de pagamento digital com maior velocidade hoje em dia. Nesta publicação, discutimos o que está impulsionando sua popularidade, os riscos envolvidos de fraude e de combate à lavagem de dinheiro, bem como o que os bancos podem fazer para proteger a si mesmos e seus clientes.
O distanciamento social acelerou duas transições que já estavam em curso: a passagem do dinheiro vivo para o digital e a passagem do cartão para o móvel. Atualmente, temos uma convergência de regulamentação e adoção por parte dos consumidores, com resultados revolucionários. De acordo com a Businesswire, a COVID-19 concretizará um aumento de oito vezes nos pagamentos móveis entre os anos 2020 e 2024
Os consumidores gostam das carteiras digitais pela conveniência que oferecem, mas é a sua complexidade que alimenta a conveniência. As carteiras digitais não são um produto simples. São diferentes de outros tipos de pagamento, pois oferecem diversos canais de pagamento ou vias de pagamento em uma única entidade. Na realidade, pelo fato de poder carregar dinheiro em uma carteira, bem como fazer transações através dela, isso representa que ela não é necessariamente apenas um meio de pagamento.
Estas complexidades criam certas vulnerabilidades para o potencial tanto de fraude quanto de lavagem de dinheiro; uma convergência cada vez mais chamada de FRAML (Fraude e Lavagem de dinheiro).
Uma das principais questões de segurança é que é fácil esconder sua persona com carteiras digitais. Pode-se comprar um telefone descartável, usar dados de cartão de crédito ou débito roubados na dark web e depois carregá-los com muita facilidade em uma carteira digital. Comerciantes, bancos e consumidores não conhecem a pessoa por detrás desse dispositivo móvel porque ele é pré-pago.
O dilema FRAML imposto pelas carteiras digitais não é diferente dos problemas enfrentados pelos bancos 100% digitais. Os consumidores solicitam contas bancárias 100% digitais devido à facilidade da experiência. Não precisam fornecer documentação ou comparecer em uma agência física. Mas este tipo de conveniência é também o que atrai os criminosos. Quando um banco 100% digital é inaugurado, é preciso se preparar para uma ofensiva de mulas de dinheiro.
As carteiras, infelizmente, têm um perfil semelhante. Muitas delas são produtos novos, apenas digitais, e todos querem esse tipo de conveniência, inclusive os criminosos.
Do ponto de vista de combate à lavagem de dinheiro, é fácil para os criminosos fazer desaparecer a carteira depois que a usam para fazer a lavagem de dinheiro. Basta que se livrem do telefone. Enquanto que com uma conta bancária, o banco é obrigado a manter esses dados por um período específico.
Os bancos precisam ter métodos de prevenção de fraudes e crimes que possam se adaptar a todos os casos de uso da carteira digital para manter tanto as organizações quanto os consumidores seguros. Estes casos de uso incluiriam a abertura e integração de contas digitais, o carregamento das carteiras digitais, pagamentos de comerciantes e a agilidade de permitir que produtos novos pudessem nivelar a carteira, tais como empréstimos.
Além disso, é essencial ter uma plataforma que não só impeça a FRAML, mas que garanta também que a sua organização não esteja possibilitando isso. As agências reguladoras e os clientes não querem ouvir que você impediu as fraudes para a sua empresa, e sim que o seu produto possibilitou isso para todos os demais.
As estratégias de fraude mais antigas não funcionam com carteiras digitais
As estratégias tradicionais de fraude não funcionam com carteiras digitais por algumas razões. Em primeiro lugar, as carteiras digitais, por natureza, atraem clientes interessados em facilidade e conveniência. Esses clientes não se aliarão a uma estratégia punitiva de prevenção de fraudes, com taxas elevadas de recusa. Essa é a receita para perder clientes, o que é uma possibilidade real, já que as carteiras digitais não são tão aderentes quanto as contas bancárias. Os clientes muitas vezes habilitam o depósito direto e outras características, o que faz com que as contas bancárias sejam consideravelmente mais aderentes do que as carteiras digitais.
Em segundo lugar, as soluções tradicionais traçam o perfil dos clientes, confiando nos dados de pagamento e no código de categoria dos comerciantes (MCC). Essa abordagem não funciona com a carteira digital porque a carteira mostra apenas a transação da carteira, não a transação do comerciante. Por exemplo, digamos que compramos sanduíches de frango na lanchonete do João e usamos Paypal para fazer o pagamento desses sanduíches. A lanchonete do João nunca aparece em nosso demonstrativo. Em vez disso, os registros da transação aparecem como “Paypal”. Com as carteiras digitais, nem sempre se obtém a fidelidade real do comerciante, porque o operador da carteira pode bloquear essas informações.
Por fim, não é só o fato de não se poder ver os dados; é que os dados ficam turvos. Um dos perigos de continuar com a tecnologia mais antiga é que descobrirá que o perfil de seu cliente fica cada vez menos refinado. Isso porque não é possível combinar a forma como o cliente está fazendo transações na carteira digital com a forma como está fazendo transações no cartão. Mesmo utilizando o mesmo comerciante em ambos os casos, talvez não seja possível casar esses dados. Portanto, se, por exemplo, utilizar o mesmo comerciante com tipos de pagamento diferentes, a menos que reveja isso junto ao cliente, a sua definição de perfil ficará pior juntamente com a sua taxa de detecção.
O aprendizado automático e múltiplas fontes de dados protegem as carteiras digitais
A inteligência artificial, e especificamente o aprendizado automático, consome fontes de dados discrepantes e pode suprir a carência deixada pela natureza camuflada das carteiras digitais. Desta forma, o aprendizado automático permite obter uma visão global da transação, do cliente e do tipo de pagamento em toda uma base de clientes como um todo, no que é um ambiente veloz.
Em uma experiência típica de carteira, os consumidores carregam os dados de pagamento em seus dispositivos. Os dados incluem números de cartão ou conta, assim como outros dados de identificação pessoal. Em seguida, o banco classifica o cliente usando algum sistema de alto risco/vermelho, baixo risco/verde ou médio risco/amarelo. Alguns bancos enviam notificações push de volta ao consumidor pelo aplicativo móvel. Alguns bancos enviam SMS para autenticação por etapas. Ainda assim, outros bancos forçam os clientes a ligar e providenciar seus cartões para uma atendente eletrônica. Não importa o processo que o banco segue, chegou a hora da verdade para o risco.
É neste ponto do processo que as instituições financeiras precisam aproveitar as informações do dispositivo provenientes de um provedor de confiança digital. O provedor de confiança digital questiona a saúde e o asseio de cada dispositivo junto com a conexão. Em seguida, alimenta essas informações em um lago de dados para interpretação de regras e avaliação de risco, começando posteriormente a formar o perfil do dispositivo móvel. Será que João da Silva está acessando o dispositivo de São Paulo, SP? Ou será que é Jonas Silva que reside em São Paulo, SP, mas o dispositivo se encontra no Rio de Janeiro, RJ,? É um risco elevado. Ao incorporar estas informações no perfil, sejam elas transações de comércio eletrônico ou no ponto de venda, cria-se um perfil mais completo e preciso e uma pontuação de risco.
O aprendizado automático ou Machine Learning aproveita várias fontes de dados para ampliar os dados digitais, combina-os com os dados de transações e os reencaminha para a plataforma para criar uma visão de 360 graus do risco associado ao usuário, ao dispositivo, além da própria transação.
Uma frase menos conhecida de Paulo Coelho afirma que “A vida sempre foi um problema de saber esperar o momento certo para agir”. Tecnologias, circunstâncias e regulamentações confluíram para um ponto singular: agora é a hora das carteiras digitais. Os proprietários ou fabricantes de carteiras, de certa forma os varejistas, precisam se certificar de que estejam bem posicionados para aproveitar esta oportunidade. Em suma, agora é a hora de agir.
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